O primeiro (e maior) desejo do PT era o de que todo mundo acreditasse na inexistência do mensalão. O segundo, que se desse um desconto ao “pecadilho” do caixa dois e ficasse tudo por conta dos vícios do sistema que leva todos ao terreno da ilegalidade, por esta ótica legitimada pelo compartilhamento da prática.

Não deu certo. Prevaleceu, por mais consistente, a narrativa feita na denúncia da Procuradoria-Geral da República aceita pelo Supremo Tribunal Federal para abertura de processo, a Ação Penal 470.

O desejo seguinte, que o julgamento não acontecesse no ano eleitoral de 2012. Outra vontade frustrada, não obstante o rigor do Supremo não tenha influenciado o resultado das eleições: o PT perdeu ou ganhou por questões de ordem política.

 

O mensalão não foi o tema central da campanha, seja porque a oposição não o explorou a fundo, seja porque os petistas – da presidente da República aos candidatos, passando pela posição majoritária nas bancadas do Congresso – atuaram para marcar distância entre o episódio e o partido.

Com habilidade, desmontaram preparativos de reações mais radicais na defesa dos réus e no ataque ao tribunal. Os estridentes do ano passado não caracterizaram uma ação coletiva. Pois toda sutileza foi abandonada quando ficou decidida a execução das penas de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.

A presidente Dilma Rousseff calada estava, resolveu se manifestar aludindo a risco de morte quando Genoino teve uma crise de pressão alta; o ex-presidente Lula da Silva um dia recusou-se a falar – “quem sou eu para comentar decisão do Supremo?” – e no seguinte ecoou as reclamações – “parece que a lei só vale para o PT” – as bancadas no Congresso foram contundentes na ofensiva contra o presidente do STF e os dirigentes do partido assinaram manifesto de protesto.

Teria sido a isso que o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, se referia quando disse “em 2013 o bicho vai pegar”? Caso tenha sido, trata-se de um bicho daqueles que não se cria em casa. Pode morder o dono.