Por Jorge Béja

Depois deste assassinato-estatal que a Indonésia cometeu contra o brasileiro Marco Archer, em gravíssima e imperdoável desobediência aos tratados internacionais que acabaram com a pena de morte no mundo… depois do desapreço que o governo indonésia demonstrou aos insistentes apelos do Brasil para que, pelo menos, a vida de Marco fosse poupada… depois do artigo “Fuzilamento do Brasileiro Mostra a Hipocrisia da Indonésia”, que nosso editor jornalista Carlos Newton assinou e publicou neste blog, noticiando ocorrências estarrecedoras nas enxovias indonésias… depois do sentimento de consternação que toma conta do povo brasileiro desde ontem, sábado, é de todo aconselhável que o Joko Widodo (é o presidente da Indonésia) recue perante o Comitê Olímpico Internacional e decida não enviar atletas representantes de seu país para as Olimpíadas-2016 na Cidade do Rio de Janeiro. Ou seja, uma Olímpíada sem a participação da Indonésia.

Não será por causa do risco de hostilidade que atletas indonésios venham ser alvos dos brasileiros. Nada disso, penso. Somos um povo pacífico, cosmopolita e sabemos perdoar, até mesmo quando um brasileiro é oficialmente assassinado por um Estado estrangeiro, embora até chegar as Olimpíadas e para todo e sempre, o sentimento coletivo de revolta não vai desaparecer tão fácil, tão rapidamente, da nossa memória.

ESPÍRITO OLÍMPICO

O que deveria levar o governo indonésio à recusa de participar das Olímpiadas de 2016 é porque o evento ocorrerá justamente no país e na cidade onde Marco Archer nasceu e cresceu, até ser fuzilado pelo estado indonésio. Todo o ocorrido representou outro assassinato ao chamado Espírito Olímpico, bandeira e mote de todas as Olimpíadas. Espírito Olímpico é respeito, solidariedade, excelência, congraçamento. Para Frei Betto “as olimpíadas são o prenúncio de um outro mundo possível, o mundo solidário no qual a humanidade viverá como uma grande família”.

Qual o lastro moral, de solidariedade e de integrar uma grande família, que a Indonésia desfruta para vir à Cidade do Rio de Janeiro participar das Olimpíadas-2016, se no dia de ontem, com arrogância, com sadismo, com desacato às leis internacionais e sem considerar os apelos do Brasil, a Indonésia assassinou, por fuzilamento, um filho da cidade-sede das Oimpíadas-2016?

Na abertura dos jogos teriam os atletas indonésios passos firmes, cabeças erguidas e sorriso nos lábios para desfilar ostentando hasteada a bandeira daquele país? Estamos diante de situação delicada e grave, a ser examinada pelos governos do Rio (Estado e Município), do Brasil, da Indonésia e, principalmente, pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), sempre sensível a tais situações. Tomo emprestado o adjetivo de Carlos Newton para concluir: Indonésia: país hipócrita e que assassinou um carioca não pode participar da Olimpíada-2016 no Rio.