Dora Kramer

A presidente da República perdeu o timing da demissão de Orlando Silva. Deixou passar a oportunidade na sexta-feira e ficou a reboque da decisão da ministra Carmen Lúcia, que abriu inquérito no Supremo Tribunal Federal para investigar a participação do ministro nos desvios de dinheiro do programa Segundo Tempo.

Na semana passada Dilma Rousseff ainda estava em condições de preservar um pouco da iniciativa de resolver uma questão de evidente quebra de confiança, mas preferiu não fazê-lo a fim de atender circunstâncias outras.

Ao que se sabe fiou-se nos (maus) conselheiros que a orientaram a resistir ao “clima de histeria” para evitar que PT e PC do B se engalfinhassem numa troca de denúncias sobre quem deixou correr mais solto o descontrole com as verbas do Ministério do Esporte: Orlando Silva ou o antecessor e hoje governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.

Resultado, mais uma vez tornou-se refém dos fatos consumados: novas denúncias a cada dia, pedido de investigação feito pelo procurador-geral da República, solicitação aceita pela ministra Cármen Lúcia, inquérito aberto no STF e Orlando Silva fora do jogo. Esteja ele nesta altura demitido ou não.

Subtraído de autoridade – moral, política e administrativa – pelas circunstâncias que os conselheiros não levaram em conta e a presidente não soube ou não quis avaliar corretamente. Se a intenção era resguardar a prerrogativa da presidente de decidir, deu-se o oposto: os acontecimentos decidirão por ela.