Alto custo da vacina ainda é o maior entrave para imunização contra o HPV

O Ministério da Saúde (MS) informou, nesta quarta-feira (9), que a inserção da vacina contra o Papiloma Vírus Humanos (HPV) na rede pública de saúde deve custar, anualmente, US$ 6 milhões ao Governo. De acordo com o diretor do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle da DST/AIDS do MS, Dirceu Greco, a pasta tem lutado contra os preços “obscenos” praticado pelos laboratórios. Hoje a vacina é comercializada por US$ 14, aproximadamente R$ 27 por pessoa.

O assunto foi debatido durante toda manhã no seminário HPV: Sintoma, Diagnóstico e Tratamento, na Câmara dos Deputados. A infeção pelo vírus é responsável por 95% dos casos de câncer de colo de útero. Estimativas apontam que, só este ano, 18 mil mulheres desenvolverão a doença no Brasil e destas, 4 mil morrerão.

Para a líder do Partido Socialista Brasileiro (PSB), deputada federal Sandra Rosado (RN), o alto preço da vacina não pode ser empecilho na luta pela imunização. “Não podemos nos acomodar, temos que achar alternativas como o redirecionamento de receitas ou a produção da vacina no País”, enfatizou. “Muito mais caro que a vacina é a vida”, complementou. Atualmente, as vacinas contra o vírus só são encontradas na rede privada ao custo de R$ 1.077, informou a médica Elaine Abissamra.

O infectologista Dirceu Greco disse que o Ministério da Saúde estuda a aplicação da vacina em casos específicos, locais de maior vulnerabilidade social. Greco também minimizou a eficácia da vacina em mulheres com vida sexualmente ativa. Segundo ele, a imunização é mais eficiente se aplicada na faixa etária de 9 a 13 anos.  A informação foi contestada pelo professor adjunto de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Santa Catarina, Edison Fedrizzi. “Muitas mulheres com a vida sexual ativa não estão infectadas”, rebateu o docente. Fedrizzi também argumentou que, mesmo as pessoas que já estão infectadas por um tipo de vírus, podem ser imunizadas contra outros. Uma das vacinas comercializadas no Brasil oferece proteção para até quatro tipo de vírus. A ciência tem catalogado cem variações do HPV.

Austrália vacina desde 2007

O sucesso da vacinação em outros países também foi debatido no encontro. A Austrália, por exemplo, iniciou a vacinação em 2007. Em 2011 o país contabilizou 85% de cobertura da vacina em diferentes faixas etárias. De acordo com a coordenadora do Instituto HPV da Santa Casa de São Paulo, Luísa Villa, houve redução de 90% das infecções benignas, aquelas que não causam câncer.   Um projeto piloto desenvolvido no Brasil também rendeu bons resultados. Na cidade de Barretos, em São Paulo, quase 1.500 estudantes do 6º ano foram imunizadas.

O projeto atingiu meninas de 11 a 16 anos. O coordenador do Departamento de Ginecologia Oncológica do Hospital do Câncer de Barretos, José Humberto, avalia que o projeto serviu para mostrar que a vacinação terá alta aceitação quando for disponibilizada na rede pública. De acordo com ele, 97% das meninas receberam as três doses da vacina.

Apesar dos bons resultados da imunização, os médicos alertaram para a necessidade da realização periódica dos exames ginecológicos. “O rastreio do câncer de colo de útero deve continuar, porque as vacinas disponíveis não cobrem todos os tipos de vírus”, explicou a médica Luísa Villa. Ela também defendeu a inclusão de homens nos programas de prevenção.

Texto: Letícia Alcântara