Por Xico Sá

 

“Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo…”

Essa é a música junina mais bonita de todos os tempos. Mas hoje, aqui na queima da fogueira caseira do inconsciente, lembrei de um belo episódio.O dia em que inventaram, e foi seguramente em uma festa no Nordeste, que os Beatles haviam gravado “Asa Branca”.

Eu era um garoto que amava os Beatles e curtia Luiz Gonzaga, como muitos do meu tempo no interior do Nordeste. Alguém aí do fundão se levante agora, please, para dizer que não estou mentindo? Quem era mais invocado, radical, digo, trocava os Beatles por Rolling Stones, mas dificilmente desprezava Gonzaga.

Como um tio, o Nelson, apresentava um programa de rádio, no Cariri, que só tocava Beatles, fiquei mais chegado aos “cabelinhos pastinha”, assim eram tratados lá em casa os meninos de Liverpool.

O comum era misturar a música universal de Gonzaga com a música regional inglesa ou a música regional americana, caso de Elvis e outros tantos.

Somava-se a essa tertúlia sonora os cubanos do bolero, vide Bienvenido Granda, “el bigode que llora”, o preferido do meu pai até hoje.

Muitas vezes tomávamos conhecimento dos gringos, falo da parte do rock, por intermédio de “Os Incríveis”, “Os Pholhas”, “Renato & seus blue caps”… e tantas outras pérolas derivativas.

Foi no “Beatles, ontem, hoje e sempre”, programa do meu tio citado acima, que acabei com a lenda de que o afamado conjunto inglês havia feito uma gravação em disco de “Asa branca”, grande sucesso dos nossos vizinhos Gonzaga (Exu, Pernambuco) e Humberto Teixeira (Iguatu, Ceará).

A imprensa havia espalhado a mística.Chegaram a dizer que nada passou de uma graça do radialista Carlos Imperial, da cidade do Rio de Janeiro, maluco genial e folgazão metido a fazer esse tipo de lorota.Nada disso, amigos, meu tio matou a charada.

Foi lindo e inesquecível aquele dia: é que os trinados iniciais de “The Inner Light”, de George Harrison, lembram por instantes “Asa Branca”. E o mais importante, o que talvez tenha dado início ao boato: a música é quase igualzinha a “Mulher Rendeira”, outro clássico do cancioneiro nordestino. Por volta de 1985, na condição de jovem repórter, encontrei Gonzagão no Recife. E caí na besteira de perguntar sobre o assunto. No que ele sorriu, me deu um abraço carinhoso, havia conversado várias vezes com o gênio, e me disse, mirando os mares do Pina, lá no restaurante Maxime´s:

“Escute essas coisas não, meu fio, mas que é verdade é. Era os Beatles tentando se promover às minhas custas”.Imagina a gaitada que o Rei soltou nesta hora.