O recebimento do auxílio emergencial de R$ 600 aprovado pelo Governo Federal para a pessoas em situação de vulnerabilidade pode ter um detalhe complicador: a falta de acesso desta faixa da população a bancos e a internet domiciliar. Isso porque um a cada três domicílios no Nordeste não possui internet e 14% dos municípios da região não têm nenhuma agência ou posto bancário para atendimento presencial.

Esses dados foram levantados pela pesquisadora Jordana Cristina de Jesus, professora do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da UFRN, que identificou a dificuldade de acesso à informação e atendimento presencial de nordestinos, especialmente nos municípios mais pobres. “Nos últimos 10 anos, 52% dos municípios nordestinos perderam agências bancárias, sendo que mais de 1,2 milhão de pessoas no Nordeste vivem em cidades sem nenhuma agência ou posto bancário, que já são cerca de 14% dos municípios nordestinos. Sem acesso à internet e sem locais de atendimento presencial, muitos dos mais vulneráveis estarão sem condições de efetivar seu direito ao benefício”, alerta Jordana.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2018), 28% dos domicílios do Rio Grande do Norte não possuem acesso à internet. No Nordeste, esse percentual se amplia para 35%, o equivalente a 12,8 milhões de adultos, ficando crítico em estados como Maranhão, por exemplo, onde quase metade (46%) dos domicílios não têm acesso. A média nacional é de 24% de domicílios em que nenhum morador tem acesso à internet.

“A falta de acesso à Internet cresce na medida em que caminhamos para as regiões mais pobres do Brasil”, explica a pesquisadora, salientando que o acesso à internet está intimamente ligado ao nível de renda das famílias e é determinado pela ocupação dos adultos que as compõem. “Entre os adultos desempregados no Nordeste, 25% não têm acesso à Internet em casa. Trabalhadores sem carteira assinada, por conta própria ou auxiliando suas famílias são também atingidos pela falta de acesso. Estes últimos são os que se encontram em pior condição: 4 em cada 10 não teriam internet em casa para fazer a solicitação”, afirma Jordana.

Na região Nordeste, estima-se que mais de 4,3 milhões de pessoas não tenham como requerer o auxílio, acompanhar a solicitação ou realizar transações pela poupança social digital criada para aqueles que não possuem conta no Banco do Brasil ou Caixa. Este número é baseado na soma de trabalhadores desempregados, informais, por conta própria e ou que auxiliam suas famílias.

Cadastro Único

O pagamento do benefício para quem já estava no Cadastro Único (CadÚnico) ou recebia o Bolsa Família é realizado de maneira automática. Para os demais trabalhadores, entretanto, faz-se necessário um cadastro, que pode ser feito por aplicativo ou pelo site do Auxílio Emergencial, ligado à Caixa Econômica Federal. Essa operação envolve a avaliação de informações do Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), da Receita Federal e do próprio Cadastro Único. Os cruzamentos das informações são feitos para verificar se a pessoa que está pleiteando o auxílio se enquadra nas regras definidas.