Charge do JCaesar (Arquivo do Google)

Por Pedro do Coutto

A operação “Desenrola”, anunciada pelo governo Lula da Silva, será iniciada na próxima segunda-feira como caminho para a recuperação das dívidas de pessoas que assumiram  créditos com bancos e lojas comerciais num processo rotativo que faz com que as incríveis taxas de mais de 400% por 12 meses se façam presentes num mercado financeiro do absurdo. O Banco Central deveria – isso sim – ter tomado providências com essa viagem estratosférica num rumo impossível de alcançar, pois ninguém pode pagar uma dívida com uma taxa que atinja esse nível, oitenta vezes superior à inflação de 2022.

A aplicação de juros nessa escala é faturada pelos próprios bancos e lojas que emitem cartões, pois nas compras mais simples, sou testemunha, a cobrança quando é enviada propõe a alternativa do parcelamento. Parece fácil, mas se olharmos a taxa projetada para o mês, verificamos que ela oscila em cerca de 19%. É uma impossibilidade e até mesmo uma crueldade em relação aos que necessitam parcelar as suas contas através de cartões de crédito oferecidos intensamente todos os dias pela publicidade comercial.

IMPORTÂNCIA SOCIAL – No fundo, é um processo de sedução para que a pessoa não pense na dívida que assumirá e se volte mais para o efeito imediato de um crédito ou para a aquisição de um produto através desse crédito fatal. Logo, a operação “Desenrola” tem uma importância social extraordinária, sem dúvida alguma. Mas é preciso, e não vejo sinais disso, que fosse acompanhada por uma observação: a de que as pessoas beneficiadas não assumam depois créditos em tais condições inalcançáveis de resgatar. Como é possível, conforme já dito no início deste artigo, pagar-se uma conta aos juros anuais de mais de 400%?

A resposta a essa indagação está no volume das dívidas existentes e no número de inadimplentes que se eleva a 70 milhões de brasileiros e brasileiras. O governo não pode contribuir por omissão para que tal calamidade opressora e antissocial permaneça na legislação em vigor. O BC não se preocupa com isso, mas com os juros anuais de 13,75% que incidem sobre a dívida bruta do país de R$ 6 trilhões. Os lucros concentram mais ainda a renda do país. No O Globo, a reportagem é de Geralda Doca, edição desta sexta-feira.