Via O Globo

Após defender o nome do governador do Paraná, Ratinho Jr., para a disputa do Palácio do Planalto em 2026, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse que a legenda dificilmente seguirá com o governo e o PT, que planejam a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. No comando de três ministérios (Minas e Energia; Agricultura; e Pesca), o partido convive com insatisfações internas de políticos que não conseguem emplacar seus apadrinhados em cargos da máquina federal e, na outra ponta, de uma ala que resiste a aderir à gestão petista. O próprio Ratinho Jr. apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro (PL) em 2022.

“Antes de começar o debate no partido, eu tenho uma percepção pessoal, porque ainda não é partidária, de que o Ratinho é um candidato que está preparado. É um salto natural”, diz Kassab.

Em evento de aniversário de 12 anos do PSD em Brasília, na semana passada, o chefe da sigla subiu ao palco para dizer que o governador, ao final do segundo mandato, seria o nome do partido, caso a candidatura própria seja concretizada. Ele avalia o governador como um nome de “centro”, e não ligado ao bolsonarismo, como aliados no Paraná o veem.

O dirigente justifica a posição ao sustentar que seria muito difícil conquistar unidade para seguir com o PT. Hoje, a manutenção e costura de alianças a Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo e ex-ministro de Jair Bolsonaro, é de responsabilidade de Kassab, secretário de Governo e Relações Institucionais.

“Não é fácil ser de centro e apoiar candidato de direita ou de esquerda. O PT, por exemplo, é oposição ao Ratinho e ao governo de São Paulo (do qual o PSD é aliado). Também há a independência do (prefeito) Eduardo Paes no Rio”, argumenta Kassab, que admite: “Fazer uma opção por coligação não é fácil”.

O presidente do PSD ressalta que as energias da sigla estão direcionadas para as eleições municipais, que ocorrerão no próximo ano. Só depois, então, a empreitada nacional será debatida com profundidade. Ele sustenta que essa posição não causará embaraço, já que o seu partido continuará a apoiar Lula pela “governabilidade”.

Segundo parlamentares do PSD e de outros partidos de centro, Kassab ensaia a repetição de estratégia adotada no último pleito e, com isso, força o governo Lula a fazer mais concessões.

Na pré-campanha do ano passado, o dirigente alçou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como um nome “certo” à Presidência, mas depois chegou a convidar Eduardo Leite (RS), filiado ao PSDB, para disputar a eleição. Nenhum deles foi de fato candidato ao Planalto. O PSD, então, adotou a neutralidade no primeiro turno e liberou seus filiados a se posicionarem como quisessem.

Ainda de acordo com parlamentares que acompanham as articulações, o movimento do chefe do PSD pode servir a propósitos imediatos. O primeiro seria segurar a insatisfação da bancada do Paraná, preterida em negociações com o governo Lula, e pressionar o Planalto a atender demandas travadas — uma delas é a indicação para a Fundação Nacional da Saúde (Funasa), na mira também de Republicanos e União Brasil.

“Eu não vejo confusão (na relação do PSD com o governo), existem aspirações. Como todo partido da base do governo, quer votar e ter indicações. Às vezes, acontece saia-justa, mas não é sinal de crise”, sustenta Kassab.

Já no longo prazo, a indicação de Ratinho poderia fortalecer uma opção em caso de piora nas expectativas de agentes econômicos e do eleitorado. No Congresso, parte dos parlamentares acredita que será difícil o governo zerar o déficit fiscal a partir de 2024, como planeja o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Esse cenário, caso se confirme, poderia abrir espaço para um nome novo.

O aval dado a Ratinho Jr., político ligado à direita, envia ao governo o sinal de que a sigla pode se desvencilhar do Planalto para construir uma candidatura competitiva. O nome poderia, em tese, aproveitar o espaço político aberto com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro.

O movimento de Kassab pode ainda arrefecer os ânimos da ala conservadora do partido. No PSD, uma parte da bancada na Câmara se sente alijada de espaços de poder – até o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, passou a ser alvo de fogo amigo.