Dirigente licenciado da Fetarn, Manoel Cândido da Costa disse que em relação ao inverno, a Fetarn já considera “o momento delicado” e acha que não ocorram mais chuvas fortes este ano: “Não acreditamos mais inverno daqui pra frente”. Manoel Cândido afirma que “já ocorreram prejuízos” nas lavouras da agricultura familiar relacionadas às culturas de feijão, milho, sorgo, algodão e até melancia, que em seu município, é uma das mais fortes depois da cajucultura. Cândido diz que na região Agreste, por ser mais próxima do litoral e em áreas de serras, possa ser que haja alguma safra de fruticultura permanente, como o caju: “Com qualquer chuva pode ser que se produza alguma coisa”.

Segundo Cândido, as chuvas do começo do ano trouxeram um certo alívio para encher os reservatórios de água, mas “vamos ter problemas lá na frente” porque os pequenos açudes e barragens “vão secar mais cedo” pela descontinuidade das chuvas. “A velha solução”, continuou ele, será o abastecimento de água por carros pipas nas áreas rurais onde não existem distribuição de água encanada e os poços, em sua maioria, são de água salobra. O dirigente da Fetarn informou que a instituição está elaborando um documento para ser entregue à governadora Rosalba Ciarlini, com propostas de convivência do homem do campo com a situação de seca em 139 municípios do Rio Grande do Norte, os quais vão precisar decretar estado de emergência para passarem a receber recursos do governo federal para enfrentamento do problema da estiagem.

O meteorologista da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), Gilmar Bristot, disse que na região semiárida deverá persistir a falta de chuvas, mas adianta que pelo menos no litoral ainda devem ocorrer chuvas deste “resto de abril para frente”, passando pelos meses de maio e junho. ”Se os ventos de sudeste continuarem fortes, as chuvas podem atingir alguns municipios da região Central, até chegando no Trairí, entrando com um ‘aguaceiro fraco’ pelo Brejo da Paraíba”, disse Bristot. A questão das chuvas, segundo ele, será inclusive tema de audiência pública na Assembléia legislativa, na tarde de segunda-feira, dia 16.

Prefeitos querem antecipação de decreto

O presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (Femurn), Benes Leocádio, diz que a ausência de inverno “causa muita preocupação” aos gestores municipais, “até porque com a falta de outras coisas, se adia, com a falta de água nenhum ser vivo sobrevive”. Benes Leocádio informa que na região Central, uma das mais secas do Estado, o rebanho de bovinos e caprinos já está morrendo, “sendo levantado nas tipóias” porque passou a ocorrer, também, a falta de pastagem devido à insuficiência das chuvas: “O prejuízo é irreparável para o sustento do rebanho”

Como prefeito de Lajes, a 120 quilômetros de Natal, Benes Leocádio ainda declara que a situação pode se tornar, praticamente, insustentável para os municípios que não terão condições de arcar, sozinho, com o abastecimento de água na zona rural, sobretudo pelo preço cobrado pela água das adutoras, que sai a R$ 3,00 o metro cúbico. “Prefeituras como as de Lajes e Pedra Preta gastam entre R$ 15 e R$ 20 mil com o abastecimento de água na zona rural”, disse ele, apesar do serviço que vem sendo mantido pelo Exército com a chamada “Operação Carro Pipa”. Além disso, Leocádio acha que o governo estadual tem que se antecipar às medidas legais cabíveis, garantindo, “por questão de saúde”, água tratada para as populações rurais, indiferente do que existe na nova legislação da Defesa Civil.