Não é só o mercado que aguarda com ansiedade o final do expediente de quarta-feira (2) para fazer suas contas. Quando, daqui a três dias, o Banco Central anunciar a decisão sobre a taxa básica de juros, a política também fará seus cálculos.

Ninguém é capaz de cravar com antecedência qual será a nova Selic, mas já é possível antecipar que, seja qual for o resultado da próxima reunião do Comitê de Política Monetária, Roberto Campos Neto seguirá como alvo do governo e do PT. As informações são do Estadão.

Isso em nada diminui a importância do próximo encontro da diretoria do banco. Não se espera que o presidente do BC saia da mira, mas o anúncio servirá para modular o tamanho da artilharia que será voltada a Campos Neto nos próximos meses.

Se o corte for de 0,25 ponto porcentual, como muitos apostam, não será uma surpresa para o mercado, mas suscitará uma forte onda de críticas da política. Para as vozes mais polidas do governo, o BC terá insistido numa posição excessivamente conservadora e injustificável diante das evidências. Para os quadros mais estridentes do PT, será a prova de que Campos Neto e seu time jogam contra o Brasil.

O ministro Fernando Haddad tratou de reforçar o que o governo espera do BC às vésperas da reunião do Copom.

Na última sexta-feira (28), quando o dia já caminhava para o seu fim, ele chamou a imprensa e passou alguns recados. Entre eles, o de que estaria mais do que justificado um corte de 0,5 ponto porcentual na Selic diante dos últimos acontecimentos, como a revisão das projeções de inflação pelo mercado e melhora da classificação do Brasil por agências de risco.

Haddad é um inconteste expoente da ala dos moderados do governo. Mas nem ele esconde nos bastidores que já perdeu a paciência há tempos com Campos Neto. Em sua visão, havia espaço para um “pequeno corte” na taxa básica de juros já em maio. Se não em maio, definitivamente em junho.

O ministro havia investido em conversas, almoços e encontros com Campos Neto e tinha a impressão de que o presidente do BC havia entendido seus argumentos. Como sabemos, a Selic foi mantida em 13,75% tanto em maio quanto em junho. Haddad jogou a toalha, de acordo com pessoas próximas. Internamente, esbravejou que não conversaria mais “com aquele cara”. Publicamente, passou a repetir que “não há economia que resista” à insistência do BC em manter os juros tão altos.

Haddad, Lula e o PT têm razões para querer a queda da Selic. Sem um alívio por parte da política monetária, a desaceleração da economia no segundo semestre certamente virá, minando o trabalho feito pelo governo na área econômica.

O governo, portanto, tem pressa. E é por isso que, mesmo se o BC entregar um corte de 0,5 ponto percentual na próxima semana, a pressão sobre Campos Neto seguirá. O Planalto precisa de uma sequência de cortes expressivos para tornar mais célere o efeito sobre investimentos e fazer a roda de consumo girar.

A pressão sobre Campos Neto ganhou nos últimos dias, inclusive, novos contornos com a abertura de uma investigação contra ele pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O argumento é que o presidente do BC foi imprudente ao cogitar repassar à iniciativa privada a gestão de parte dos ativos do banco. Na prática, todo mundo entendeu que a corte abriu uma nova frente de desgaste a Campos Neto.

O movimento do TCU soma-se a pedidos para que o presidente do BC se explique aos parlamentares, para que o Congresso o investigue, e a uma miríade de críticas públicas à postura do Copom. A política escolheu Campos Neto como alvo e dá sinais de que, nem tão cedo, pretende recolher suas armas